sábado, 29 de novembro de 2008

SEU JAIR SE FOI...

Seu Jair que era carroceiro, toda vida, égua gorda, cavalo alazão, vixe que cavalo “ bão”. Não tinha pressa, adotou essa filosofia de vida, mas não tinha preguiça, era cabra bão. Quando nasceu sua mãe logo disse esse vai chamar Jair, nome de craque, Jair o furacão da copa de setenta. Mais Seu Jair de furacão não tinha nada, nem mesmo jogava pelada. Ser carroceiro foi o presente que Deus lhe deu. Gostava de animais, cavalos, éguas. O prazer era vê–los saudáveis, vendendo saúde e muita força para o trabalho. Animal de carroceiro trabalha muito, serviço pesado. Carregar areia e cascalho isso dá muito trabalho, sem falar o cascalho. A madeira para as construções. Caibros e vigotas, aquilo atravessado na carroça, o cavalo fica nas pontinhas do pé, um pouquinho mais o animal fica suspenso no ar. Mas não, estufa o peito abre as narinas e num passo certo, logo, logo ta lá em cima. Êta cavalinho bom.
Seu Jair saia pela manhã, e logo fazia um ou dois carreto, pronto o dia estava ganho. Fazer o que? Passava no boteco, Tomava uma branquinha e mais outra e depois a saidera. Que sempre não era a saidera. Quem freqüenta boteco sabe como é. Então passava no açougue comprava uma costela, era muita coisa, pois o pessoal lá de casa come bastante. Esses meninos estão bem crescidinhos, na verdade são três negrões que poderia esta jogando de zagueiro em qualquer time do campeonato brasileiro. Série B é claro. Mas são todos uns pernas de pau, nem pra jogar futebol não serviram, essa é a opinião do pai, Seu Jair. Mas voltando a costela que é cozida no fogão a lenha, panela de ferro e com o tempero da mulher de Seu Jair.Todos vão comer e ficar lambendo os beiços. Seu Jair comeu também como se um cavalo fosse. Então, tira a camisa, tira a botina e pisa na terra, apesar de estar na sala, em sua casa, o piso é de terra batida. Seu Jair nunca as foi de mordenidades , geladeira, fogão a gás. É fogão a lenha mesmo, quando a lenha acaba e só ir ao mato e pegar outra carroça de lenha. Então pra que fogão a gás, tanquinho geladeira, pra que tanto luxo. A vida é simples, e foi assim que Seu Jair quis viver. Fora uma casa, uma mulher, duas filhas e 4 filhos, um Deus já levou. Família bonita, de cor negra, as mais belas espécies da raça. Até parecem aqueles negros que vê nos livros de história, pintados pelo pintor Debret, pago pelo rei de Portugal para pintar as coisas da terra. Isso é um pouco da vida de Seu Jair, meu amigo. Foi a vida que Deus lhe deu. Agora esta lá em cima, vendo cavalos pastarem em pastos verdes, tão verdes que doem os olhos. Seu Jair se foi. Fica com Deus, homem bom. primeira | < anterior | próxima >

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